COP 27 – Decisiva ou mais do mesmo?

29 Nov 2022

COP 27 – Decisiva ou mais do mesmo?

Ano após ano, o organismo das Nações Unidas designado por UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change – reúne para debater o impacto causado pela Humanidade no sistema climático. Conter o avanço das alterações climáticas a partir de mecanismos de redução que possam ser aplicáveis á escala global é o grande objetivo da COP, ou Conferência das Partes.

A 27ª edição da conferência aconteceu este ano, entre os dias 6 e 18 de novembro, no Egito. Quais foram os principais temas discutidos? E as principais conclusões?

COP 27: Um momento decisivo no combate às alterações climáticas

A COP27 incidiu, acima de tudo, na saída das negociações e passagem para a implementação de todos os acordos e promessas feitas em COPs anteriores. Além de revisitar os Acordos de Paris, a conferência veio mexer também em alguns pontos que permaneceram inconclusivos após a conferência de Glasgow.

Assinado na COP 21, em 2015, o Acordo de Paris é essencial no que toda à resposta global e eficaz para a necessidade urgente de travar o aumento da temperatura média global. O acordo teve como objetivo principal descarbonizar as economias mundiais e limitar o aumento da temperatura média global a níveis abaixo dos 2ºC acima dos níveis pré-industriais, criando condições para que esse aumento fosse limitado a 1,5ºC.

O acordo de Paris ganhou ainda mais importância porque, pela primeira vez na história, se reconhece que a concretização destes objetivos depende unicamente da ação e contributo de cada país. Desde então que o mote para as conferências seguintes tem sido cumprir com o Acordo e acelerar com a mudança climática, rumo à neutralidade carbónica em 2050.

É neste seguimento que surge na COP 26 o Pacto pelo Clima de Glasgow, com acordos em linha com as preocupações que caracterizaram a COP 27:

 

  • Mitigação – Parte do Pacto de Glasgow ditou a aceleração da redução de carbono e a eliminação dos subsídios fósseis, em prol de uma transição justa. Na COP procurou-se perceber como é que os diferentes países estão a implementar esta mitigação e procurar metas mais ambiciosas para 2030 (a neutralidade carbónica em 2050 não é mais suficiente);
  • Adaptação – Em Glasgow os países concordaram que era urgente reduzir as emissões e diminuir o ritmo do aquecimento global. Mas em 2022, quais estão a ser os progressos dos diferentes países, e que compromissos estão a ser assumidos? Quais as ajudas que estão a ser dadas às comunidades mais vulneráveis?
  • Financiamento Climático – Em Glasgow, definiu-se que os países mais desenvolvidos deviam trabalhar para cumprir a meta de financiamento climático de 100 mil milhões de dólares. Mas chegámos à COP 27 e essa promessa não está a ser cumprida.

O mesmo foco, mas nada de novo

A COP27 terminou com um acordo sobre a criação de um fundo de “perdas e danos” para os países mais afetados pelas mudanças climáticas.

Da conferência resultou ainda a reafirmação do compromisso de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais e a urgência na definição de ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e os impactos das alterações climáticas, com o aumento do apoio financeiro, tecnológico e de capacitação necessários aos países em desenvolvimento. Os governos concordaram ainda em operacionalizar os novos acordos de financiamento e o fundo na COP 28 do próximo ano, esperando-se uma primeira reunião do comitê antes do final de março de 2023.

Apesar de mantido o foco na mitigação das alterações climáticas e no apoio às comunidades mais vulneráveis (falando-se num fundo de apoio histórico), pouco se avançou no que toca a ações concretas. Quem vai financiar os apoios? Quais são os critérios de distribuição dos mesmos?

Importa então perceber a razão para o fracasso dos resultados obtidos numa COP que se esperava histórica no combate às alterações climáticas, mas que parece ter sido ofuscada pela vulnerabilidade que caracteriza o mundo atualmente.

A vulnerabilidade pandémica e a crise energética

Nos últimos dois anos as sociedades viram as suas atividades drasticamente reduzidas em função de sistemas de lockdown forçados derivados da pandemia da Covid 19. Pela primeira vez em várias décadas, chegou a pensar-se que alterações à nossa forma de viver e trabalhar, com fortes reduções na realização de deslocações e consequentemente redução de consumo de energia, poderiam resultar numa inversão da tendência de aumento de CO2 na atmosfera. Infelizmente, os dados apontam para um impacto muito pouco expressivo da pandemia no que diz respeito à concentração de GEE na atmosfera. Os recordes de concentração de CO2 na atmosfera sucedem-se anualmente, tendo sido em Maio de 2022 atingido os 421,63 ppm (partes por milhão).

Já em 2022, com o desenvolver do conflito no Leste da Europa, e com um perspetivar de um inverno rigoroso, a segurança energética passou para o primeiro plano. As energias renováveis tiveram um crescimento sem precedentes sobretudo na última década, mas estão longe de conseguirem garantir uma segurança no abastecimento, sem o contributo das energias fósseis. No que toca ao aquecimento, o gás natural – até pela dependência da Rússia – tem sido o foque de todas as atenções. Numa ironia extrema, o frio e a necessidade de assegurar a sobrevivência neste inverno que se prevê rigoroso já fez trazer o carvão, altamente intenso em carbono, de volta ao maior consumidor de energia da EU, a Alemanha.

Os resultados pouco entusiasmantes da COP 27 são assim derivados de uma envolvente bastante complexa e delicada no que toca à segurança energética global, mas sobretudo europeia. Que o futuro será feito de transição energética e descarbonização ninguém pode duvidar. A dúvida é saber se iremos a tempo de evitar mudanças climáticas irreversíveis. A Bluenergy apoia as organizações nesta transição para uma sociedade menos intensiva em consumo de recursos, ajudando a poupar dezenas de milhares de euros e contribuindo para um planeta mais sustentável.

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